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“O verde na periferia é o mato, o medo”, diz biólogo

A afirmação é do professor Leandro Luiz Giatti, ao debater ambiente e saúde pública

O biólogo Giatti: “Um papel importante, para nós, é conseguir reconectar essas coisas que estão aparentemente distantes da vida das pessoas” (imagem: Youtube)

 

Por: Danielle Xavier

Defendendo o olhar ampliado para as periferias urbanas, o biólogo e especialista em saúde pública Leandro Luiz Giatti apontou a presença de áreas verdes com diferentes significados nas cidades brasileiras. “O verde na periferia é o verde do mato, é a exclusão, é o medo, é o perigo”, disse em debate nesta terça-feira, 25, discutindo o tema “Áreas verdes na cidade e os impactos na saúde”. O evento, promovido pelo canal do Sesc-SP no YouTube, teve a mediação da bióloga Renata Crivoi de Castro, especialista em educação para a sustentabilidade, com a participação de Bárbara Junqueira dos Santos e Marco Aurelio Bilibio Cravalho.

Giatti, que é professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, questionou o que pode ser feito para que as áreas verdes urbanas sejam um benefício para as pessoas, e não um risco à segurança e à saúde pública nas periferias brasileiras. Enquanto em áreas ricas a presença do verde é chamada de arborização, nas áreas carentes são uma ameaça para os moradores do entorno.

“Um papel importante, para nós, é conseguir reconectar essas coisas que estão aparentemente distantes da vida das pessoas”, apontou Giatti em relação ao meio ambiente, acrescentando o papel que as universidades poderiam desempenhar no processo de diálogo com a sociedade, abrindo novas possibilidades e criando alternativas. Como solução, o especialista citou a pesquisa realizada na periferia de Guarulhos sobre a importância das pequenas hortas urbanas, e da interdependência da água, energia e dos alimentos.

“Uma pequena agricultura urbana, mesmo que em pequena escala, contribui na ciclagem dos materiais, na economia dos recursos, e salva conjuntamente a água, energia e alimentos que vêm de fora geralmente para a cidade”, disse Giatti.

Em sua participação, o biólogo apontou que cidades mais arborizadas estimulam as pessoas a fazerem atividades físicas, auxiliando na prevenção de doenças. Citou como exemplo “a obesidade, doenças cardiovasculares, problemas que são contemporâneos no nosso cotidiano das grandes cidades”.

Em sua participação, a engenheira florestal Bárbara Junqueira dos Santos apontou ser um desafio olhar para a área verde, e a importância de ter um olhar diferenciado para esses espaços. “Não é porque é público, que não é de ninguém’’, enfatizou. Com a pandemia, a engenheira disse que 90% das pessoas, após a flexibilização da quarentena, passaram a ir para praças e pesquisaram sobre cursos de jardinagem, plantio em pequenos espaços. “É um processo de higiene mental, de saúde mental para todos nós’’, disse ao analisar novos hábitos adotados durante a pandemia.

Referindo-se às periferias, a engenheira acentuou a importância do mapeamento das áreas verdes. “Há falta de calçada, há falta de iluminação, muito mato”, observou, questionando sobre onde estão as soluções, possíveis locais de promoção de saúde e a ampliação da valorização do verde na periferia. “Pensar mais ações, questões, principalmente nas periferias, levar as pessoas para olhar desta forma para a natureza, da importância que ela tem”, propôs. “Não é o meio ambiente que precisa da gente, ele vai bem sem a gente”, concluiu.

Na live, o psicólogo clinico Marco Aurélio Bilibio Carvalho ressaltou a importância do meio ambiente para o bem estar, citando recordar-se de uma pesquisa em que a presença do jardim em ambientes escolares e hospitalares resulta em melhorias para a saúde, além de reduzir ansiedade e depressão. “Precisamos reconsiderar e valorizar o efeito que as florestas trazem para a ecologia interior”, alertou.

“Negacionistas são o exagero de uma mentalidade; não têm a menor noção de tudo isso que estamos falando”, comentou Carvalho a respeito da destruição da natureza e o posicionamento dos que negam a relação entre danos ambientais e mudanças climáticas. “Falta a essas pessoas, em primeiro lugar, esse tipo de vínculo real, com o mundo natural. São prisioneiros demais de crenças utilitaristas, dicotomizantes, que desmoralizam e desqualificam a natureza”, criticou.

Acesso à integra do debate Áreas verdes na cidade e os impactos na saúde

 

Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti

Edição: Laryssa Holanda


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