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‘Seja amigo de um morador de rua’ propõe padre Júlio Lancellotti


Por Nicole Gonçalves e Fayollah Souza


O auditório Dom Agnelo Rossi da PUC-Campinas ficou repleto na noite da última quarta-feira (30/04). Mais de 300 pessoas, entre alunos, professores e comunidade externa, se reuniram para receber uma visita especial: o padre Júlio Lancellotti. O religioso foi convidado para lecionar uma aula aberta que teve como tema a dignidade humana e o papel assistencial da igreja com a população em situação de rua. O evento foi promovido pela Faculdade de Serviço Social e pelo Centro Acadêmico do curso.  

Padre Júlio Lancellotti, da Arquidiocese de São Paulo, é conhecido nacionalmente por seu trabalho com pessoas em situação de rua e em vulnerabilidade social na Pastoral do Povo da Rua. Também é pároco na Igreja São Miguel Arcanjo, no bairro Mooca, na cidade de São Paulo. Ativo nas redes sociais, Lancellotti compartilha sua luta em defesa dos mais vulneráveis e é frequentemente criticado por conservadores de direita.

A partir do momento em que pega o microfone, Júlio desce do palco do auditório, fica à altura de todos que o assistem e diz: “Prefiro sempre falar de um lugar mais baixo”. Para ele, é preciso mudar de posição social para entender aqueles que vivem à margem. Durante toda a conversa, o padre dá uma lição sobre empatia e humanidade. “Sejam amigos dos pobres. Se aproximem, conversem, perguntem o nome, mas não invadam o espaço, peçam licença”, aconselha. 

Padre Júlio Lancellotti em encontro na PUC-Campinas (Foto: Daniel Ribeiro)

O pároco, que convive com pessoas em situação de rua, expõe as dificuldades de quem não tem um lar para voltar no fim do dia. “É torturante morar nas ruas. Será que alguém aqui aguenta? Não poder tomar banho, usar a mesma roupa por mais de uma semana, não poder entrar na Igreja, no shopping, no cinema, ser humilhado e rejeitado?”, indaga Júlio. Ele também critica o pensamento por trás de placas com a frase ‘não dê esmola, dê cidadania’, pois afirma que a esmola é apenas uma consequência de se viver nas ruas, não a motivação. Ele ainda compartilha que, muitas vezes, o uso de drogas e álcool é a única saída dessas pessoas para lidar com a dor, com o frio e a fome.


Mais de 300 pessoas no auditório Dom Agnelo Rossi (Foto: Fayollah Souza)

A plateia, hipnotizada pela presença do padre Júlio Lancellotti, entende a importância desses duros relatos. Samuel Andrade, aluno de serviço social e um dos organizadores do evento, explica o motivo pelo qual resolveu convidar o padre para a ocasião.  Segundo o estudante, a busca foi para compreender o papel reparador da Igreja em meio à omissão do Estado. “Queríamos entender, como futuros assistentes sociais, como a Igreja trabalha para atender a população em situação de rua, visto que é o Estado que deveria garantir os direitos dessas pessoas”, explica. Em certo momento da aula, Lancellotti recomenda que os futuros assistentes sociais abandonem o atendimento por trás de uma mesa, pois “a mesa é escudo de proteção, ela afasta (…) o serviço social deve se reinventar”.

Não foram somente os alunos de serviço social que se interessaram em assistir à aula. Sarah Ananias, do curso de publicidade e propaganda, também esteve presente na noite de quarta-feira. “Já conheço o trabalho do padre e o admiro muito. Apesar de não ser do curso de serviço social, a palavra dele vai muito além disso — é de humano para humano”, explica. 

Padre Júlio fazendo o plantio do ipê amarelo (Foto: Juliana Doretto)

O religioso também conheceu a pastoral universitária, plantou um Ipê Amarelo no campus, em homenagem ao Papa Francisco, e participou de uma roda de conversa com seminaristas e professores. Cerca de 600 pessoas estiveram presentes durante todo o programa. 

O padre Júlio Lancellotti ainda lançou uma provocação para a comunidade acadêmica presente. “Será bonito o dia em que os moradores de rua dessa cidade poderão entrar nessa universidade. O que será que eles pensam de nós, das universidades, dos assistentes sociais?”, questiona.  No final, ele propõe e convida a PUC-Campinas a montar um acampamento solidário para abrigar e proteger as pessoas em situação de rua do frio que se aproxima. “Façam sopa, fogueira, aqueçam-os. Vamos ouvi-los, abraçá-los, acolhê-los e entender a forma que eles veem o mundo”, pede Júlio. 

Em março de 2024, a PUC-Campinas, em parceria com a Paróquia Nossa Senhora da Conceição, lançou o programa “Levanta-te e Anda”, que visa propor ações para os moradores de rua da área central do município, por meio de uma rede de parceiros, ONGs e entidades. Segundo um levantamento da Prefeitura, realizado em 2024, Campinas identificou 1. 557 pessoas em situação de rua. Desse número, 257 pessoas estão acolhidas. Esses dados representam um aumento de 39% em comparação com o levantamento anterior, de 2021.




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