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Segundo a bióloga Natashi Pilon, o recurso educacional é essencial para que as próximas gerações saibam lidar com o mundo em que irão viver
Por: Isabela Meletti
Ondas de calor que matam pessoas pelo mundo afora, enchentes que acabam com cidades, temporais que destroem bairros. Essas são algumas das consequências das mudanças climáticas vividas pela humanidade atualmente, em especial no Brasil, que enfrenta, no ano de 2024, a maior seca da história, de acordo com dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). A bióloga e ecologista Natashi Pilon explica que tudo isso está ligado a dois pontos chave: a ausência de políticas públicas governamentais voltadas ao meio ambiente e a falta de educação ambiental no país

De acordo com Natashi, a sociedade brasileira está acostumada a vivenciar a questão do meio ambiente e a sustentabilidade de “forma superficial”, ou seja, através de ideias e ações individuais, que segundo ela, fazem a diferença, mas que “não conseguem ser eficazes em larga escala”.
“O grande problema é que no Brasil não existem e nunca existiram de fato políticas governamentais voltadas para o meio ambiente em âmbito nacional, muito menos a educação ambiental”, diz a bióloga.
Natashi explica que no contexto de hoje a educação ambiental é essencial para que a humanidade entenda em qual nível de destruição o planeta se encontra e como as próximas gerações vão viver nesse mundo. Segundo a ecologista, o que ocorre é uma reação em cadeia dos sistemas do meio ambiente, conforme acontecem as degradações. Em razão disso a população brasileira tem enfrentado queda na produção agrícola, maior incidência de doenças respiratórias e declínio da biodiversidade.
Para ela, o processo funciona como uma “escadinha” porque a crise climática causada pela ação humana e pela constante queda da biodiversidade em diversos níveis, como perda de vegetação, gera impactos econômicos, que por sua vez resultam em impactos sociais e emergências de saúde.
Ouça a entrevista completa com a bióloga
(Áudio bióloga Natashi Pilon)
Natashi acrescenta que o momento atual é “histórico”, já que ela ainda enxerga modos para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e a degradação do meio ambiente em alguns níveis.
“O momento histórico é esse, porque ainda tem solução, então se a gente conseguir segurar os fragmentos de cerrado, de campo, de floresta que ainda restam no planeta, adaptar as cidades trazendo componentes de sustentabilidade e promover a educação ambiental desde cedo nas escolas, talvez seja possível reduzir os efeitos das mudanças no clima”, afirma.
Em uma escola particular de Campinas, no distrito de Barão Geraldo, os alunos recebem desde cedo educação ambiental. Através de diversas atividades, integradas com os conteúdos ministrados, o aprendizado a respeito da crise climática e da questão do meio ambiente torna-se contínuo.

A diretora do colégio Cida Leme, que está na gestão há 35 anos, conta que a promoção desse tipo de educação começou desde o início da instituição e segue até hoje através dos “estudos do meio”. Essa atividade tem o objetivo de fazer com que o aluno fique imerso no tema estudado por meio do contato com a realidade fora da sala de aula. Por exemplo, nos conteúdos abordados a respeito do ecossistema de mata atlântica e de cavernas em turmas do sétimo ano, os estudantes foram até a divisa do Estado de São Paulo com o Paraná nas cavernas do Petar para estudar de perto a importância dos sistemas biológicos do local.
“Nós (escola) consideramos os estudos do meio muito importantes porque eles trazem uma dose de realidade e de contato com um determinado assunto que está se desenvolvendo nas aulas. Então, ele tem uma perspectiva de compor o trabalho da escola e também levar os alunos a terem um olhar mais cuidadoso para o meio ambiente, para a natureza, para a questão da sustentabilidade e do próximo”, explica Cida.

A bióloga e professora de ciências Marina Heiter desenvolveu no colégio um trabalho durante as aulas sobre o filo dos artrópodes com as abelhas jataí. Marina utilizou de diversos meios para que os estudantes compreendessem a relevância das abelhas no meio ambiente e para a sobrevivência dos seres humanos.
Nas escolas municipais e estaduais de Campinas também existem projetos de educação ambiental, mas com recursos limitados. O diretor educacional, que faz parte da Secretaria do Clima, Meio Ambiente e Sustentabilidade, Gustavo Merlo, explica que desde 2017 existe um plano municipal de educação ambiental determinado por decreto.
“O nosso plano educacional voltado ao meio ambiente abrange alguns âmbitos, que são: oferecer formação sobre essa temática aos educadores frequentemente, mapear locais que proporcionam o contato com a natureza e realizar inscrições de visitas guiadas programadas com as escolas em lugares como a Mata de Santa Genebra, Bosque dos Jequitibás e Estação Ambiental de Joaquim Egídio”, detalha o diretor.
No entanto, Merlo aponta que existem algumas dificuldades para realizar o trabalho de modo que englobe a metrópole toda, em função da equipe reduzida destinada a essa função e consequentemente as verbas deliberadas ao setor. Ele afirma ainda que um projeto de educação ambiental voltado à questão climática começou a ser construído em outubro deste ano.

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Projeto Erosão
Ludmila Santos, professora de geografia, faz questão de implementar projetos pedagógicos que abordem a questão ambiental associada ao papel social de cada aluno como cidadão. Neste semestre, Ludmila apresentou aos estudantes da escola de Barão Geraldo o “Projeto Erosão”, uma proposta de atividade que busca criar uma visão ampla nos alunos sobre o espaço geográfico e como a ocupação humana pode causar impactos nos solos das cidades.
Ludmila acredita que a educação ambiental inserida em todas as disciplinas e âmbitos é “essencial para formação de crianças e adolescentes mais conscientes, que vão poder agir de forma diferente nos próximos anos”.
No vídeo a seguir a professora Ludmila detalha sobre o projeto e seu trabalho com as crianças nas escolas em que dá aulas
A educação ambiental como chave e porta de entrada para a mudança da questão degradante do meio ambiente ajuda crianças e adolescentes a compreenderem a gravidade da problemática e tem se mostrado cada vez mais eficiente no aprendizado integral dos estudantes.
Orientação: Profa. Karla Ehrenberg
Edição: Luísa Viana
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