Cultura e Sociedade
Obra serve de alerta para os perigos de idealizar padrões inatingíveis como casos de dismorfia corporal em mulheres
Por Pedro Rabetti

A dismorfia corporal, ou popularmente conhecida como ‘feiura invisível’, é um transtorno mental caracterizado pela percepção distorcida da própria imagem corporal. Pessoas que sofrem com esse transtorno, em sua maior parte mulheres, acreditam ter defeitos que na verdade não existem ou que são leves. A preocupação com a própria imagem pode chegar a um nível de ações repetitivas, como se olhar no espelho várias vezes.
O filme ‘A Substância’ (2024) expõe como a obsessão pela perfeição afeta a vida das pessoas. O longa tem gerado debates nas redes sociais pela sua forma radical e agressiva de ilustrar como a dismorfia corporal é capaz de atingir a protagonista, vivida por Demi Moore, fazendo com que ela tome medidas extremas para alcançar a validação da sociedade. A obra serve de alerta para os perigos de idealizar padrões de beleza inatingíveis.
Recentemente, um estudo realizado por pesquisadores australianos revelou que apenas 8 minutos de tela no TikTok já é o suficiente para abalar a autoestima de uma mulher. Mas o problema não é somente o TikTok, e sim as redes sociais em geral, que há anos vem idealizando um padrão de beleza baseado em filtros e corpos inalcançáveis.
A aluna de publicidade, Sarah, de 20 anos, conta um pouco da sua experiência de como é viver com o transtorno dismórfico corporal. Ela relata que tem problemas com o próprio corpo desde pequena, mas os sintomas se intensificaram na adolescência. “Lembro de ficar entrando a cada 5 minutos no perfil da Jade Picon e me comparando com ela”, relata.
Sarah conta que os primeiros sintomas apareceram quando completou 14 anos. Quando ia sair com os amigos, ficava mais de 2 horas decidindo qual roupa iria usar, pois “tinha medo de alguma gordurinha marcar”, diz. Ela alega que várias vezes chegou a cancelar com os amigos em cima da hora pois não se sentia bem com a imagem que via no espelho. A estudante menciona que nunca experimentou ficar longe das redes sociais pois não consegue ficar “sem internet”, mas, comentou o que já fez para diminuir a comparação com outras pessoas: parar de segui-las nas redes sociais.
Atualmente, a jovem ainda sofre com os sintomas da dismorfia corporal, mas revela que começou recentemente acompanhamento psicológico e diz sentir uma leve diferença em relação a visão com si mesma. Sarah acredita
que algumas redes sociais, como o Instagram, deveriam adicionar em algumas publicações um selo informando que a foto foi editada, “não se compare com essas fotos, elas estão lotadas de efeito”, brinca.

O psiquiatra Eusébio Gallo Júnior comenta que a repetição desses conteúdos na tela, acaba gerando a idealização, que resulta em frustração. “As mulheres são constantemente bombardeadas por corpos que não existem na realidade, o que enfraquece sua relação com o próprio corpo e promove uma busca incessante por um ideal de beleza impossível”, explica.
Eusébio conta que as mulheres são historicamente mais associadas ao corpo e à estética, essa é a razão pela qual as mesmas são mais atingidas pela dismorfia corporal. Ele completa dizendo que enquanto os homens podem se apoiar em outros registros de valorização como o trabalho, o corpo feminino é mais colocado no centro da identidade das mulheres.
O médico também alerta que o uso prolongado das redes sociais pode ocasionar o desenvolvimento de outros transtornos, como ansiedade, depressão e síndrome do impostor. “A constante exposição e comparação com vidas “perfeitas” leva a uma erosão da autoestima e desconexão com a realidade, alimentando outros sofrimentos psíquicos”, explica. Eusébio destaca a importância da desconexão das telas e no investimento em relações reais e também em atividades que conectem as mulheres consigo mesmas.
Valmira Forgati, psicanalista, conta que houve um aumento considerável deste tema em seu consultório. A profissional acredita que ao mesmo tempo que as redes sociais trouxeram à tona esse assunto, elas também expõem o que é ditado como “corpos perfeitos” pelo padrão da sociedade. “Ao chegar no consultório, os sintomas marcantes e aparentes são a depressão, a angústia, a ansiedade e outros, que estão na frente, porém ao investigar mais profundamente com as ferramentas psicanalíticas, encontramos o cerne da questão, ou seja, a dismorfia corporal”, explica.

Valmira acredita que o papel da psicanálise nesse assunto é de extrema importância. Ela diz que entender o funcionamento do próprio psiquismo é um avanço rumo ao autoconhecimento. A psicanalista finaliza indicando que uma desintoxicação digital resultaria em impactos positivos e alerta “precisamos lembrar que todo excesso esconde uma falta, a investigação desta carência será necessária, pois pode estar havendo um mecanismo de defesa compensatório, ou seja, escondendo fatores originários do transtorno. Concluindo, é preciso ter um equilíbrio no acesso ao mundo digital, existe vida além telas e câmeras virtuais!”, finaliza.
Orientação: Profa. Karla Ehrenberg
Edição: Luísa Viana
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