Ciência
Tecnologia é usada para tornar a produção mais eficiente e sustentável, impulsionando o agronegócio brasileiro no cenário global
Por Amanda Poiati e Fayollah Souza
A inteligência artificial (IA) tem se consolidado como uma ferramenta essencial no agronegócio brasileiro, promovendo uma produção agrícola mais eficiente. Com o uso de tecnologias avançadas, como sensores, drones, rastreadores e sistemas de monitoramento em tempo real, a IA está transformando a maneira como os produtores manejam seus cultivos.
O desenvolvimento do “Agronegócio 4.0” no Brasil, com o uso intensivo de tecnologias digitais, está mudando a forma como alimentos, fibras e agroenergia são produzidos. De acordo com Edson Bolfe, pesquisador em Sensoriamento Remoto na Embrapa Agricultura Digital e docente na Unicamp, o uso de IA no campo traz avanços nos processos produtivos. “Nos últimos anos, a IA tem permitido o avanço no mapeamento e monitoramento agrícola. Com a ajuda de algoritmos de aprendizado de máquina, conseguimos monitorar e gerenciar aspectos críticos, como solo, água, vegetação e até mesmo os animais. Isso permite um manejo mais sustentável e eficiente”, afirma.
De acordo com Daniel Azevedo Duarte, especialista em Gestão Estratégica do Agronegócio, a IA no setor agropecuário representa um novo modelo de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), voltado para otimizar a produção agrícola e pecuária de forma mais prática e precisa. “A inteligência consegue, de forma autônoma, entender as necessidades de um espaço, seguindo padrões que vão gerar menos esforço braçal e menos gastos”, explica.
A IA também pode ser uma ferramenta para os produtores enfrentarem novos desafios, como as mudanças climáticas. Com as secas prolongadas e chuvas irregulares, a tecnologia pode ajudar a identificar padrões e sugerir soluções. “A inteligência artificial pode atuar no melhoramento genético das plantas e em um manejo mais eficiente dos sistemas de produção, permitindo o desenvolvimento de cultivos mais resistentes”, diz Daniel Azevedo. A IA tem sido aplicada no desenvolvimento de cultivos mais resistentes, como arroz, soja e milho, que são os principais cultivos do Brasil, podendo ser crucial para enfrentar desafios, como o aumento da demanda por alimentos e a escassez de recursos naturais.
Quando Daniel Azevedo se refere à uma IA com grande precisão e otimizando práticas específicas, pode se usar como exemplo o plantio de café, uma das maiores produções do Brasil. O café deve ser plantado com temperaturas entre 18º e 24º graus. Com a ajuda da IA, pode-se determinar um momento exato para iniciar o plantio, evitando desperdícios de sementes, além de ajudar no gasto de água.
Uma pesquisa realizada pela KPMG (link: revelou que 84% das propriedades rurais não tem acesso à internet no campo, sendo os pequenos agricultores impactados pela falta de tecnologia. No entanto, Daniel afirma que a IA no setor agrícola deve ser acessível a todos. “Da mesma forma como antes os tratores eram exclusivos de grandes produtores, hoje estão acessíveis para os pequenos empreendedores, a IA também pode se tornar mais acessível no futuro”, prevê.
A aplicação da IA traz benefícios tanto de forma direta quanto indiretamente para o setor agropecuário. De forma direta, reduz os custos e proporciona uma melhor experiência para os produtores e para os animais. Indiretamente, a IA contribui para a preservação ambiental e melhora a qualidade dos alimentos que chegam à mesa dos consumidores, o que reforça a importância da inovação tecnológica no agronegócio.
Além de beneficiar o manejo agrícola, a IA tem um papel crescente na discussão ética e na proteção de dados. A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), por exemplo, tem aprimorado práticas que garantem a privacidade e a transparência no uso dos dados gerados no campo. “A gestão dos dados é uma preocupação constante. Os princípios FAIR, por exemplo, orientam a maneira como os dados devem ser publicados, garantindo que sejam localizáveis, acessíveis e reutilizáveis. No Brasil, também seguimos a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que assegura a proteção das informações pessoais de produtores e consumidores”, esclarece Bolfe.
Startups brasileiras têm desenvolvido um papel importante no avanço dessas tecnologias no setor agropecuário. “As startups estão contribuindo com a inovação, criando novas metodologias, sensores e soluções específicas para a agricultura. Elas têm sido essenciais para a resolução de problemas complexos, como o manejo de solos e recursos hídricos, a rastreabilidade dos alimentos e o controle de pragas”, afirma.
O engenheiro Eduardo Nunes tem se especializado na aplicação da Inteligência Artificial no setor agropecuário. No áudio a seguir, ele oferece uma explicação detalhada sobre os processos envolvidos e as perspectivas para o futuro do agronegócio.
Orientação: Profa. Karla Caldas
Edição: Gabriela Lamas
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