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Mostra cultural da PUC Campinas promoveu um olhar atento aos mais vulneráveis
Por Bruna Azevedo e Daniel Ribeiro
Na praça em frente a Catedral Metropolitana de Campinas, aos pés de uma estátua, um homem toma sol para matar piolhos de pomba que castigam suas pernas. Próximo ali, no Largo do Rosário, os bancos da praça servem de varal para secar roupas da população de rua. Nestes e em outros locais do centro da cidade, em busca de algum trocado, pedintes abordam desesperados os pedestres. E tantos outros, seja dia ou noite, dormem no meio das calçadas ou marquises de lojas. Essas são cenas recorrentes nas ruas de grandes centros urbanos, como Campinas. Nos últimos três anos, a população em situação de rua aumentou em 39,4%. O último censo divulgado pela Secretaria de Desenvolvimento e Assistência Social de Campinas em parceria com a Fundação Feac, em maio passado, aferiu cerca de 1,3 mil pessoas nas ruas. Desses 277 são mulheres, 1056 são pretos ou pardos e 319 são maiores de 49 anos.
Em meio a essa realidade, ações como a Mostra (Re)Olhar: Um outro Jeito de Ser e Conviver, que ocorreu em frente a Catedral no último dia 26 de novembro, e foi promovida pela PUC-Campinas, buscam despertar empatia e quebrar preconceitos. Everton Silveira, professor da PUC e coordenador da Mostra, conta que viver na rua “é o extremo de um processo de exclusão promovido pela própria sociedade” e que é por isso que eventos como esse tem o importante papel de fazer o público questionar essa realidade. O professor ainda reforça que essa questão deve ser encarada como um problema social, pois “estar na rua é uma condição momentânea, não parte da existência de uma pessoa”.
Nessa mesma Mostra, a professora Ciça Toledo, da Faculdade de Jornalista, ficou responsável por uma exposição fotográfica feita com 52 imagens de moradores em situação de rua que moram, dormem ou circulam em diversos locais no centro de Campinas. A exposição recebeu o nome de “A persistência da invisibilidade” e foi produzida por fotos de um grupo de alunos que participam do projeto de extensão da docente.
Além da exposição fotográfica, a professora e os alunos organizaram um espaço de Slam, com poesias e músicas ao vivo, cantadas pela população de rua. “A exposição trouxe recortes que mostraram a vulnerabilidade da população de rua”, explica a docente. “O espaço da música possibilitou uma perfeita interação entre os moradores em situação de rua e nossos alunos, que souberam respeitar e dar carinho a esta população excluída da sociedade”.
No vídeo abaixo, a jornalista fala sobre a experiência com o projeto:
Histórias de quem vive na rua
Marcos Mignon é um homem de 52 anos que faz anualmente, a pé, o trajeto de Uberaba até Campinas (383km) para visitar sua família. Dentro do estado, a viagem que dura 15 dias é feita à beira da Rodovia Anhanguera, local onde fica exposto à chuva, sol e possíveis acidentes rodoviários. Ao ser questionado do porquê de não estabelecer sua vida junto aos familiares, Marcos diz não gostar de “ficar parado”. Já faz 20 anos que ele mora nas ruas de Campinas. Quando chega a hora de dormir, se acomoda na região próxima à rodoviária, que segundo ele, é um local mais seguro do que a Av. Francisco Glicério, no centro. Ele usa a palavra medo algumas vezes ao contar sua rotina, apesar de já conhecer a maioria das pessoas que transitam pela cidade.
Em outro depoimento, dessa vez anônimo, um homem de 62 anos conta que está nas ruas desde 1 de agosto de 2013, dia em que recebeu um telefonema avisando que sua mãe estava no necrotério. “Depois disso, peguei o reembolso da abertura do túmulo, comprei duas garrafas de Grand Finish no supermercado e me sentei na escada da Catedral. Estou aqui até hoje”. Ele afirma ser um alcoólatra em recuperação, que por vezes acorda em camas de hospitais ou nas calçadas da rua. Fora o luto, não ter conseguido pagar o tratamento da mãe adoecida ainda o entristece. Confira abaixo, parte deste depoimento.
Orientação: Profa. Karla Caldas
Edição: Gabriela Lamas
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