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Brasil está entre os países que mais acreditam em fake news e especialistas falam sobre como combatê-las nas eleições municipais
Por Isabela Meletti, Johnny Lima, Lizandra Lima, Madu Ferreira e Vitor Santos
Quando se ouve falar sobre ‘eleições’ muitas palavras vêm à cabeça. Algumas pessoas podem pensar em políticos e campanhas, outras em urna, votação e democracia. Entretanto, as palavras ‘fake news’ são motivo de preocupação no período eleitoral. Basta olhar para as últimas eleições, inclusive internacionais, para lembrar que as notícias falsas dominaram as campanhas.
Às vésperas das eleições municipais de 2024, que acontecem no próximo dia 6 de outubro, a pergunta é: como combater a desinformação? Mas também, e principalmente, qual o papel do jornalismo frente a esse problema?
Em mais um período eleitoral, jornalistas, pesquisadores e estudiosos do assunto estão mobilizados a entender de que forma o processo das fake news se dá e como ele pode ser enfraquecido e enfrentado pela sociedade.

A jornalista e professora da faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas, Ciça Toledo, explica que, nos dias atuais, o combate às notícias falsas é o maior desafio enfrentado pelos jornalistas, já que elas são disseminadas por meio das redes sociais com facilidade e rapidez. “Se por um lado o acesso à tecnologia e o advento das redes sociais democratizaram a comunicação, por outro, trouxe novos desafios para os jornalistas e o público em geral. Não é fácil controlar a intenção de quem, conscientemente, publica uma informação falsa”, ressalta.
De acordo com a jornalista, todos os cidadãos estão sujeitos a sofrer consequências com a desinformação espalhada de modo desenfreado. Isso porque as notícias falsas podem colocar em risco a reputação de um político, de um governo, mas também de cidadãos comuns. Ela afirma que quando um boato é dito repetidamente nas redes sociais “ele acaba se tornando verídico, deixando a sociedade à mercê de informações incorretas”.
Redes sociais nas eleições
O jornalista e professor da faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas Marcel Cheida reforça essa ideia e acrescenta que a alta oferta de informação obtida através de redes sociais, grupos e comunidades da internet tem deixado as pessoas um pouco “perdidas”, uma vez que a quantidade de fatos não é processada corretamente pelos usuários. Dessa forma, fica mais fácil acreditar no que se vê primeiro, de maneira mais veloz, sem ter que verificar a informação ou pensar muito.
Segundo Marcel, o papel do jornalismo frente ao problema das notícias falsas é o que propriamente fundou o ofício. “A apuração dos fatos e relato deles deve ser feito com a maior precisão possível, sabendo que não vai atingir uma verdade absoluta, mas vai cumprir os fundamentos éticos e técnicos do jornalismo, algo que as fake news não cumprem”.
Uma pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), realizada em 2024 com 21 países, investigou a recepção de notícias falsas e verdadeiras por parte da população. O estudo constatou que o Brasil é o país que possui mais dificuldade em identificar notícias falsas. Os dados também indicaram que o país, junto com Estados Unidos e Colômbia, têm mais tendência em acreditar nas fake news.

A pesquisa classificou o conteúdo em cinco tipos: desinformação, informação errônea, decepção contextual, propaganda e sátira, divididos em três temas principais: meio ambiente, saúde e assuntos internacionais. Os participantes que acreditam mais nas notícias publicadas nas redes foram os que tiveram o pior desempenho em distinguir se as notícias eram falsas ou não. A média dos 21 países analisados ficou inferior a 10%, porém o levantamento apontou que, no Brasil, 57% dos entrevistados confiam nas informações divulgadas nas mídias sociais. O país só ficou atrás da Colômbia que apresentou confiança de 60% nas notícias veiculadas nas redes.
Esses dados mostram o nível preocupante atingido pelo Brasil nos últimos anos em relação à disseminação e credibilidade de informações falsas. De acordo com Vitor Barletta, cientista social e político, isso tem se naturalizado aos olhos da sociedade. “Chegamos a um estágio em que a fake news, para muita gente, é parte do jogo político e isso é um grande desafio, porque as pessoas acabam tendo nas mãos informações mentirosas divulgadas por certos grupos na intenção, por exemplo, de tentar virar o voto de algum eleitor indeciso ou até mesmo espantá-lo do processo eleitoral”, explicou o cientista político.
Checar informações é essencial
A moradora de Campinas, Ligia Costa, de 59 anos, já acreditou em uma notícia falsa e foi prejudicada por conta disso. Lígia conta que, desde então, procura checar as informações antes de tomar aquilo como verdade. “Quando percebo que a informação é estranha, procuro saber mais sobre o fato para poder entender melhor aquela notícia que recebi”, relata.
Ela afirmou também que em ano de eleição, tenta buscar a informação a respeito da conduta de um político através de órgãos oficiais a fim de “entender o que o candidato está propondo”.
Lígia diz ainda que evita repassar mensagens que não consegue ter certeza da procedência e veracidade.
Tecnologias a favor da informação checada

O combate à desinformação ganhou uma nova roupagem na era da tecnologia e deve ser realizado por cada cidadão. “Tento mostrar aos meus alunos, por exemplo, que o enfrentamento das fake news é uma ação individual, antes de ser coletiva”, afirmou Ciça. “As ações de combate devem ser coordenadas entre os veículos de comunicação, as empresas de checagem, as universidades e a sociedade como um todo. O combate à desinformação é uma ação de cada um de nós”, salienta.
O cidadão que recebe uma notícia por meio de uma rede social tem a responsabilidade de checar a informação antes de enviá-la para outras pessoas. Por isso, antes de enviar um texto, um vídeo ou uma foto é necessário checar se a informação é correta.
A verificação pode ser feita de diversas formas e em vários lugares, como em sites de notícias confiáveis ou empresas conhecidas por fact-checking, ou seja, empresas especializadas em checagem. Agência Lupa, Aos Fatos, Fato e Fake, do Grupo Globo; a Agência Pública e Estadão Verifica são alguns exemplos de fact-checking. Além disso, o governo federal, os governos estaduais e as prefeituras são obrigados por lei a oferecer o serviço de transparência à população através dos portais de transparência. Eles são uma ótima opção para se manter bem informado sobre as políticas aplicadas em sua cidade, estado ou país.

Orientação: Prof. Amanda Artioli
Edição: Giovanni Feltrin
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