Ciência

Estudo revela como óleos vegetais fortalecem os cabelos 

Pesquisa mostra como produtos à base de argan, abacate e coco podem reparar danos capilares 

Por: Mariana Neves e Melyssa Kell

Estudo revela alegada eficácia dos óleos vegetais (argan, abacate, coco) na reparação e proteção capilar. (Foto: Pixabay) 

Descolorir o cabelo é uma escolha muito popular para variar a aparência. No entanto, esse processo oxidativo pode comprometer a resistência mecânica do cabelo, especialmente em cabelos texturizados 一 conhecidos popularmente como cacheados e crespos 一, intensificando sua fragilidade natural. Para mitigar os danos e restaurar as propriedades dos fios, diversos tratamentos são utilizados, com destaque para o uso de óleos vegetais. Esses óleos, como os de argan, abacate e coco, têm se mostrado eficazes na reparação e proteção da fibra capilar. Um estudo comparativo investigou a capacidade desses óleos de penetrar no córtex do cabelo, especialmente em condições de cabelos lisos e texturizados, tanto virgens quanto descoloridos. 

As técnicas de análise da parte interna do fio permitiram quantificação e qualificação das moléculas que fazem benefícios ou não para os cabelos (Foto: Pixabay) 

Foi essa a premissa da tese defendida em 2023. Intitulada “Avaliação da eficácia de tratamentos cosméticos em cabelo humano através da aplicação de técnicas sofisticadas de caracterização de materiais” da pesquisadora Carolina Botelho Lourenço, orientada pela professora Priscila Gava Mazzola. A pesquisa investigou a eficácia de diferentes tratamentos cosméticos em cabelos humanos, utilizando técnicas avançadas de caracterização de materiais. A pesquisa, conduzida em paralelo ao trabalho de Lourenço em uma empresa alemã de desenvolvimento de ingredientes cosméticos, focou especificamente na avaliação dos óleos de coco, argan e abacate, populares por suas alegadas propriedades reparadoras. 

“O cabelo texturizado, por sua estrutura naturalmente frágil, muitas vezes sofre danos irreversíveis com o uso frequente de produtos químicos como descolorantes”, explica Carolina. “Se a gente vê e sente [os benefícios de maciez e brilho] no cabelo, eles estão ligados à superfície dele. Mas tem outros benefícios externos, relacionados a porção interna do cabelo, como a fortificação do fio, que o consumidor espera em um produto. Nosso objetivo foi investigar se os óleos vegetais têm capacidade de penetrar e reparar esses danos estruturais. A dificuldade que temos é estudar dentro do fio”, afirma. 

“O objetivo foi investigar se os óleos vegetais têm capacidade de penetrar e reparar esses danos estruturais [internos do cabelo]”, relata a pesquisadora. (Foto: Acervo pessoal) 

Abordando essa preocupação crescente com danos capilares decorrentes de tratamentos químicos, particularmente em cabelos texturizados, foram utilizadas técnicas como espectroscopia Raman e MALDI-TOF/TOF. 

Resumidamente, a técnica Raman, utilizada nesta pesquisa, quantifica e classifica moléculas presentes no interior do cabelo por meio de um laser que atravessa o fio capilar. Com um método parecido, a espectroscopia MALDI-TOF/TOF fragmenta proteínas por meio de um laser. Nessa quebra, fragmentos menores são atraídos por uma placa de carga maior. Essa atração, chamada de “tempo de voo”, mostra a diferença entre as moléculas e a possível classificação de quais estão internamente localizadas no fio capilar. Essas técnicas permitiram analisar os efeitos dos óleos nos cabelos liso virgem, liso descolorido, texturizado virgem e texturizado descolorido. Os resultados revelaram variações significativas na eficácia dos óleos de acordo com o tipo de cabelo e seu estado de danificação. 

Resultados em diferentes cabelos 

Óleos de coco e abacate fortalecem a barreira hidrofóbica em cabelos lisos virgens, enquanto óleo de argan aumenta absorção de água em cabelos descoloridos. Efeitos variam em cabelos texturizados, mostrando nuances na resistência capilar pós-tratamento. (Foto: Acervo pessoal) 

De acordo com análises realizadas, os óleos de coco e abacate demonstraram reforçar a barreira hidrofóbica do complexo da membrana celular em cabelos lisos virgens, mantendo suas propriedades mecânicas contra a perturbação causada pela água. Já o óleo de argan, devido à sua alta concentração de ácidos graxos insaturados, mostrou aumentar a absorção de água em cabelos descoloridos lisos, resultando em uma potencial perda de resistência mecânica. 

“A penetração dos óleos no córtex capilar, a camada interna do fio onde ocorrem as modificações estruturais, foi crucial para determinar sua eficácia”, detalha. “Descobrimos que os óleos de coco e abacate mostraram capacidade de penetração em cabelos lisos virgens, promovendo benefícios como aumento da resistência e redução de frizz. No entanto, em cabelos descoloridos, o óleo de argan, embora penetre, mostrou-se inadequado ao fortalecimento, aumentando a fragilidade dos fios.” 

Em cabelos texturizados, os resultados foram variados. Enquanto os óleos não demonstraram significativas alterações nas propriedades mecânicas em cabelos virgens, testes de fadiga sugeriram um aumento na resistência, possivelmente devido ao efeito de lubrificação das cutículas. No entanto, em cabelos descoloridos texturizados, observou-se uma redução na resistência após o tratamento com os óleos, evidenciando a complexidade dos efeitos dependendo da condição inicial do cabelo. 

Para orientadora da pesquisa, os resultados podem auxiliar o consumidor a escolher os produtos nas prateleiras (Foto: Cinthia Madeira de Souza) 

Carolina destaca e reconhece a importância da colaboração entre indústria e academia na inovação de produtos cosméticos. “Essa parceria [trabalhar em uma empresa de cosméticos] permitiu uma abordagem mais aplicada e estratégica, alinhada com as necessidades reais do mercado global de cuidados capilares”, enfatiza. “Nossa intenção era fornecer evidências científicas sólidas que possam informar a formulação de novos produtos e melhorar sua eficácia.”, complementa. “Estamos continuamente expandindo nosso entendimento sobre como os cosméticos interagem com a estrutura capilar em nível molecular. Isso não só beneficia a indústria, ao guiar o desenvolvimento de produtos mais eficazes, mas também proporciona aos consumidores escolhas mais informadas e resultados de beleza mais duradouros”, finaliza. 

Para a professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Unicamp e orientadora da tese, Priscila Gava Mazzola, o estudo pôde ajudar na avaliação do consumidor na hora de escolher o produto nas prateleiras. “A conclusão do estudo é crucial para orientar consumidores e profissionais da área sobre a escolha e aplicação desses produtos. A presença de óleos vegetais nos produtos cosméticos pode realmente melhorar a saúde da fibra capilar, reestruturando e reparando os fios. Nosso objetivo foi avaliar cientificamente se esses óleos têm benefícios reais para a reparação capilar e sua capacidade de penetrar na estrutura do cabelo.” 

Em suma, a eficácia dos óleos vegetais no tratamento capilar depende da composição específica do óleo e das características individuais do cabelo, incluindo sua morfologia e grau de danificação. Compreender esses aspectos é crucial para desenvolver tratamentos cosméticos que não só protejam contra danos, mas também restaurem a saúde e a resistência do cabelo após processos como a descoloração. 

Orientação: Prof. Artur Araújo

Edição: Mariana Neves


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