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Cosplayers se reinventam após cancelamento de evento

Fortalecimento das atividades nas mídias digitais está entre as estratégias adotadas para valorização da arte após cancelamento de eventos

Por Kamila Minari e Maria Alice Trevizam

Sejam fantasias de heróis, habitantes da Terra Média e até mesmo extraterrestres, integrando desde apaixonados por HQs em encontros casuais entre os amigos à profissionais que obtêm na arte da caracterização a sua renda principal, o cosplay torna-se cada vez mais relevante no cenário pop. Em 2019, esse mercado geek movimentou R$ 20 bilhões apenas no Brasil, como apontou a revista IstoÉ Dinheiro, em março de 2020.

Bianca Contursi, artista profissional, caracterizada como a personagem “Starlight” da série norte-americana “The Boys” em ensaio de cosplay (Foto: Divulgação/Bianca Contursi)

Segundo a Comic Con Experience (CCXP), uma das principais manifestações de cultura nerd do mundo, cosplay “é personificar a sua paixão por filmes, games, HQs, séries, livros, desenhos, novelas”. Ou seja, fazer cosplay é se caracterizar como seu personagem favorito de maneira fiel à mídia em que ele se baseia, normalmente mostrando seu trabalho em eventos especializados presenciais, como a própria CCXP ou locais, como o Campinas Anime Fest (CAF), realizado anualmente. A cosplayer Carolina Costa, relata que o hobby a ajudou a socializar-se. “Eu era tímida e tinha dificuldade de interação social. Vestindo o cosplay, por estar me retratando como um personagem e me descaracterizando, me senti mais à vontade para conversar com as pessoas”, confessa.

Bianca Contursi, cosplayer profissional desde 2017, com um alcance midiático que soma mais de 141 mil seguidores em suas redes sociais, conta que o isolamento registrado durante a pandemia intensificou a criação de conteúdo. O cosplay de armário foi uma solução elaborada pelo segmento para se reinventar e prosseguir com suas atividades. “As pessoas estão dando mais valor a esse tipo de cosplay que não é tão grandioso e que conseguem montar com as próprias roupas do armário. Fica muito legal”, atesta.

Embora a exposição de sua arte tenha se expandido, Bianca Contursi diz preocupar-se com a recepção do público perante suas imagens. “Conseguimos melhorar nossas edições de fotos e vídeos e fazer mais coisas por conta própria”, relata. Para isso, eles usam ferramentas para edição de imagens. “Os fãs nos seguem e passam a acompanhar nosso trabalho em um nível mais pessoal, por se tratar do seu personagem favorito, do que só conhecendo por rede social”, revela a artista cosplayer.

Marcelo Kayser mostra em detalhes o processo de produção de uma peça para cosplay: o acessório de um personagem do anime japonês “My Hero Academia” (Foto: Divulgação/Marcelo Kayser).

Marcelo Kayser, praticante de cosplay desde 2012, fez sua primeira caracterização aos 19 anos, como um sacerdote — personagem do jogo Perfect World. Ele mesmo fez suas vestimentas. “Decidi fazer a arma do jogo, os acessórios da roupa, tudo eu mesmo. E não parei mais”. Em 2020, ele decidiu se reinventar e transformar o hobby em profissão: deixou o emprego para se tornar cosmaker — profissional que confecciona trajes e adereços usados pelos cosplayers — em plena pandemia. Além de divulgar o seu processo de criação das peças nas redes sociais, Kayser aposta em vídeos educativos que ensinam o passo a passo da produção das peças em seu canal no YouTube, o Kayser Cosplay.

Dado o novo paradigma dentro do hobby criado pela pandemia, os cosplayers também se questionam se a prática deve seguir se concentrando cada vez mais nas redes sociais ou se ela retornará a focar mais nos eventos presenciais conforme esses voltarem a serem realizados.

Bianca Contursi fazendo entrevistas para o seu canal no Youtube, Bia Contursi, em um evento de cultura pop (Foto: Divulgação/Bianca Contursi)

Com o retorno às atividades presenciais, Bianca Contursi acredita que as apresentações acontecerão de maneira paralela, já que os cosplays exibidos nas redes sociais podem não funcionar em eventos físicos e, os mais complexos, podem consumir muito tempo e dinheiro, meses e anos para serem confeccionados e milhares de reais, dependendo de cosplay para cosplay. Ela acredita que o mercado do cosplay tende a crescer cada vez mais e encara o uso da internet como algo que pode divulgar com maior eficiência esse trabalho. A divulgação pela internet também agrada Marcelo Kayser. “Sempre há novas produções cinematográficas e animações. Com o avanço da internet, quem faz algo primeiro acaba tendo um maior destaque e, para se manter em destaque, é necessário manter-se criando conteúdo”, comenta.

Os esforços dos artistas em tempos de pandemia para se reinventarem, traduziram-se na manutenção de um hobby que movimenta a economia, além de ser uma maneira de manifestação cultural e trazer muito entretenimento. O uso das redes sociais se torna aliado fiel dos praticantes de cosplay, tal como ajuda a divulgar e trazer novos adeptos para a arte.

Orientação:  Profª Rosemary Bars

Edição: Letícia Almeida


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